De 14 a 18 de setembro, a apaixonante cidade de Areia
abrigou uma parcela representativa da produção artística da Paraíba. Aos moldes
da peculiar arquitetura colonial, a cidade se transformou num verdadeiro solar
das artes paraibanas, que destinou seus cômodos à instalação da programação do
12º Festival de Artes de Areia.
Coube, portanto, ao Festival, a função de servir como
janela dessa edificação por onde se observou mais de uma centena de atividades
ligadas à cultura da Paraíba. Apostando numa programação que representasse a
produção artística e cultural do Estado, o Festival de Artes de Areia atraiu
olhares para o interior da casa, ou seja, a produção paraibana.
Durante cinco dias, Areia foi ocupada por artistas,
intelectuais e profissionais do campo da cultura. Mais de 650 participantes se
deslocaram de vinte e seis municípios paraibanos para aquela que se constituiu
o epicentro da diversidade cultural da Paraíba. Em pouco tempo as acomodações
desta grande casa estavam lotadas.
Os salões e suas portas abertas receberam debates,
exposições e reflexões sobre a cultura da Paraíba. Pelos corredores ouviam-se
ecos ora convergentes, ora divergentes sobre os temas debatidos no Festival. O
confronto de pensamentos ratificou o interesse da Secretaria de Estado da
Cultura em promover importantes debates e avançar nas diferentes esferas do
campo da cultura paraibana.
Mesmo num frio de 18 graus, as cozinhas esquentaram a ânsia
do povo em devorar sons e texturas apresentadas nos palcos do Festival. Os
olhares do público pareciam abocanhar as melodias de Zé Ramalho, Amazan e
Genival Lacerda. Era visível o deleite com que o povo saboreava as canções
consagradas pelos ilustres paraibanos.
Contudo, a magia maior era percebida quando, por exemplo,
Cátia de França, Escurinho, Tadeu Mathias e Quinteto da Paraíba subiam aos
palcos. Para alguns a sensação era como a de experimentar um novo tempero. No
início o sabor de uma nova possibilidade gerava rostos desconfiados,
comentários ao pé do ouvido, certa repulsa. Foi aos poucos que o paladar – até
então domesticado com temperos recorrentes e massificados – começou a
identificar o novo sabor. E gostou!
Nem mesmo as senzalas desta grande casa foram deixadas para
trás. A nudez dos cativos de outrora deu espaço ao nu artístico das artes
plásticas contemporâneas, transformando em prazer o espaço antes ocupado pela
dor. Ocupar as senzalas foi, sobretudo, um gesto de trazer à luz a realidade
por vezes omitida e esquecida nas histórias oficiais.
Nos alpendres da grande casa estavam os oito homenageados.
Nada era feito ou dito sem que se repetisse o nome dos baluartes da cultura da
Paraíba. Foram homenageados os artistas José Enoch, Ariano Suassuna, Vânia
Perazzo, Fernando Teixeira, Genival Lacerda, Major Palito e Hermano José. O
Festival também prestou homenageou ao Mestre Abel Martins, que faleceu duas
semanas antes do evento.
Por fim, o Festival de Artes de Areia foi mais que uma
janela. Foi, na verdade, a porta aberta para o acesso à arte, tão próxima na
produção, mas distante na fruição. O povo de Areia deu vida ao Festival e,
certamente, sem a participação da população de nada valeria este grande
casario. A casa grande foi efetivamente ocupada pelo povo e, ao que tudo
indica, de agora em diante as portas e janelas permanecerão sempre abertas.
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