Quando o governador Ricardo Coutinho criou a Secretaria de Estado da Cultura, há quatro meses, iniciava na Paraíba a implantação de políticas culturais legadas de suas gestões enquanto prefeito de João Pessoa e, além da bagagem acumulada, trouxe também reivindicações da classe artística expressas nos “40 pontos para a cultura”.
Para organizar a pasta recém-criada, Ricardo convidou o cantor e compositor Chico César, de Catolé do Rocha, com o qual já havia trabalhado na gestão cultural da Capital. A missão do primeiro secretário da Cultura estava dada: implantar na Paraíba uma política cultural de valorização das tradições populares, o diálogo com as referências da identidade do povo, a reativação dos festivais de arte, a interação com os fóruns representativos e o apoio ao processo criativo dos artistas da terra.
Segundo o governo, as iniciativas buscam – enquanto políticas públicas – difundir e apoiar as expressões artísticas características da Paraíba que não integram o mercado e a indústria cultural, e por conta disso são raramente pautadas pelos meios de comunicação ou inseridas nas programações das rádios comerciais do Estado.
Pela proximidade do período junino Chico César foi indagado por jornalistas sobre o apoio do governo estadual aos festejos municipais e respondeu enfaticamente ao dizer que, de acordo com a política cultural do governo, os municípios serão apoiados desde que apresentem melhorias no Índice de Desenvolvimento Humano, criem seus Sistemas Municipais de Cultura e integrem em suas programações os artistas e manifestações da cultura tradicional.
Cobrar contrapartidas dos municípios demonstra a idéia do governo em evitar o apoio de forma paternalista e assistencialista, superfaturando cachês e priorizando determinadas atrações em detrimento da possibilidade de contratação de dezenas de outros artistas da Paraíba
Ainda durante a mesma entrevista o secretário ressaltou que o Estado não pretende pagar os altos cachês de bandas e grupos que integram o mercado e a indústria cultural instalada no Nordeste, que tem como carro chefe o forró eletrônico. Na visão de Chico, estas manifestações não necessitam de apoio estatal para difundir seu trabalho, já que integram 95% da programação das rádios paraibanas e têm um mercado consolidado na região.
A partir da declaração, parte da imprensa paraibana repercutiu apenas um fragmento da fala, colocando o secretário na posição de que não apoiaria tais grupos. A negligência na divulgação da fala na íntegra gerou uma falsa polêmica que durante alguns dias pautou jornais, rádios, televisões e portais, que acusaram o Secretário de discriminar determinados estilos musicais.
O fato gerou inquietação do público desse segmento musical que suscitou a possibilidade de esvaziamento dos grandes eventos juninos da Paraíba, a exemplo do “Maior São João do Mundo”, em Campina Grande. Por isso, é preciso esclarecer que a programação dos festejos juninos de Campina Grande não depende dos recursos do Governo Estadual, portanto a decisão do governo não impedirá a contratação de tais grupos. Ao contrário do que se tenta imputar, cabe ao município – e não ao Estado – arcar com as despesas na contratação de bandas e artistas.
Para esclarecer e pôr fim ao intenso debate, o secretário publicou em nota que a intenção do Governo não é menosprezar artistas e estilos consagrados pela grande mídia, mas propor a ascensão da cultura tradicional, esmagada e dilacerada por um mercado sedento pelo lucro e sem comprometimento social.
Observado esse contexto prejudicial às manifestações da cultura tradicional, coube ao Estado o papel de propor políticas públicas no sentido de valorizar a rica cultura popular paraibana enquanto referência da identidade da população, necessária para a edificação de uma sociedade rica em valores, tradições e arte.